segunda-feira, 28 de julho de 2014

A CASA DOS JAMBEIROS


NALDOVELHO

E era aquela a vestimenta mais adequada para aquele momento. Um finíssimo vestido preto, um discreto véu sobre o rosto, um generoso decote numa figura impossível de se ignorar.

E assim ela chegou à igreja para homenagear o Compadre Juvenal. O padre horrorizado desceu do púlpito e indignado a impediu de entrar.

- Isto lá são trajes Dona Carol, com este decote, não pode! Aqui é uma igreja, a casa do senhor, um lugar sagrado.

Dona Carol surpresa, se pôs a dizer:

- Mas seu padre, o Juvenal, adorava, e ele dizia sempre da beleza dos meus decotes, e eu acho que esta seria a melhor maneira de homenageá-lo, pois eu sei que esteja ele onde estiver certamente iria apreciar.

- Sacrilégio mulher! Eu sempre soube que você era irrecuperável, isto não são modos, mas parece uma vadia, aqui assim a senhora não pode entrar.

Desconsolada Dona Carol não sabia o que dizer. Imagine não poder assistir a missa de corpo presente do Juvenal! Ele que sempre fora tão bom, que tanto havia feito por ela.

Rapidamente, uma senhora, uma das filhas de Maria, com um olhar de reprovação, veio com um pesado xale e lhe cobriu o decote, como se fora uma mortalha. E assim a missa pode prosseguir.

Dona Carol nunca mais foi à igreja, sentiu-se humilhada por aquele pároco, até porque muitas e muitas vezes ele se insinuara, e vivia de olho nos seus seios, como se fosse um ser humano normal, igual, um desses que não resistia ao pecado!

Semana passada, por toda a cidade corria a notícia: Dona Carol tinha sido colocada para fora de sua casa pelos filhos do primeiro casamento do Compadre Juvenal e havia voltado a morar na Casa dos Jambeiros. E a cena patética do seu despejo, fora presenciada e incentivada pelo pároco e pelas filhas de Maria que comentavam satisfeitas, que enfim ela havia voltado para onde nunca deveria ter saído, e que lá era o seu lugar.

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