segunda-feira, 29 de agosto de 2016

POEMA DA SALVAÇÃO

    NALDOVELHO

    E do fundo daquela manhã chuvosa,
    uma estranha voz sentenciou: cuidado!
    este menino vai nascer possuído,
    é só olhar no fundo do seu umbigo
    e vocês vão ver as marcas,
    palavras tantas, imagens, viagens,
    alma atormentada abraçada a loucura,
    a solidão e a clausura,
    e a nos trazer questionamentos e estiagens;
    este menino vai nascer possuído,
    será um poeta com certeza;
    procurem logo um pastor,
    melhor seria, ainda, um padre
    e levem para exorcizar.

    E o povo em volta gritava:
    melhor não!
    Ponham-no a ferros,
    aprisionado à sua solidão,
    amordaçado em delírio;
    coloquem-no em salmoura
    e deixem-no em martírio
    até que lhe caia os dentes,
    e seca se torne sua língua,
    e murcho o seu coração.

    E a mãe do menino sorria e dizia:
    que lá em suas entranhas
    o poeta já existia,
    Prometeu acorrentado aos versos
    sob a proteção dos aflitos,
    adaga de revelar conflitos,
    fênix que renasce dos escombros,
    pois mesmo que destruam o corpo,
    sobreviverá eternamente a alma
    abraçada a sua imensidão.

    E assim nos disse o Pai:

    POEMA DA SALVAÇÃO!

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