segunda-feira, 22 de agosto de 2016

PAIXÃO

    NALDOVELHO

    E de repente eu percebi
    que aquela paixão era
    meio rosa, meio espinho,
    um tanto luz, um tanto descaminho,
    e trazia a aspereza das sombras,
    mas também a leveza das manhãs de outono.
    Às vezes era exuberante como a lua cheia,
    em outras, parecia tingida de sangue...
    E trazia a embriaguez do absinto,
    e era doída como quem implora e chora.

    E de repente eu percebi
    que aquela paixão deixou
    uma fome que me devora,
    perfume espalhado pelo quatro cantos,
    melodias que mais parecem prantos,
    harmonias de perdas e danos,
    vontade de tomar um conhaque,
    e a inevitável lembrança
    dos cigarros compartilhados...
    Acho até que por isto
    persiste até hoje a vontade de fumar.

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