segunda-feira, 19 de junho de 2017

CÍRCULO VICIOSO

    NALDOVELHO

    Caminho em círculos
    daqui pra lá, de lá pra cá,
    faz tempo assim, sem parar.
    Às vezes sinto minha alma em outro lugar,
    às vezes meus olhos me iludem
    e eu penso Te enxergar;
    mas Te enxergar eu não consigo...
    Ilusão, assombração, miragem
    e eu aqui a escrever um monte de bobagens
    na pretensão de forjar com palavras
    chaves que me permitam o acesso,
    versos que arrombem portas,
    que me levem bem distante...
    Mas o distante eu não consigo,
    e uma vez mais eu me vejo
    voltando para o mesmo lugar.
    Heresia diriam alguns!
    Sacrilégio diriam outros!
    Mas eu continuo na ilusão
    de um dia poder Te enxergar.

    Passado, presente e o futuro
    se atritam dentro de mim,
    é o tempo a devorar minhas entranhas.
    Minha mente presa num armário
    e o meu coração de um tempo pra cá
    deu pra bater ao contrário,
    tanto que qualquer dia desses
    eu vou acabar tendo que renascer.
    Mas minhas pernas ainda caminham daqui pra lá,
    e mais que depressa, de lá pra cá,
    faz tempo assim, sem parar.
    E eu a me contorcer nervoso
    tento me esgueirar por uma fresta de janela,
    quero ver o dia raiar!
    Mas a poesia em mim padece aprisionada
    a uma solidão cada vez mais perversa.
    Vou até a cozinha, tomo um café
    e ainda sinto vontade de fumar um cigarro.
    Logo-logo amanhece em meu quarto
    e eu me aquieto no mesmo lugar
    na esperança de um dia poder Te enxergar.

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