quinta-feira, 1 de junho de 2017

ALGUÉM POR AÍ TEM UMA PINÇA?

    NALDOVELHO


    Noite friorenta de maio,
    chuva fina, vento macio, delírio.
    Um espinho resiste inflamado,
    lado esquerdo do peito, encravado.
    Uma lágrima no olho engasgada,
    traz certa ardência,
    quer revelar o estrago,
    diz que chorar é preciso,
    só que eu ainda não consigo.
    Na palma da mão, cacos de vidro,
    faz tempo, espetados.

    Vejo ferrugem pra todo lado,
    nostalgia colhida na orla,
    e as palavras indecisas na areia
    dizem que querem ficar,
    mas maré vazante
    quer levá-las pr’um outro lugar.

    E se eu morresse amanhã de manhã?
    E se o silêncio me tomasse de assalto?
    Será que eu conseguiria chorar?

    Noite friorenta de maio...


    Alguém por aí tem uma pinça?

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