sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

AO SOM DE UM BLUES

    NALDOVELHO

    Trago comigo um dia frio de outono,
    já faz muitos e muitos anos,
    uma história mal alinhavada,
    muita poeira de estrada
    a garganta seca, os olhos cansados,
    um monte de memórias em meus guardados,
    uma janela aberta, raízes do passado,
    um pote de delicadezas
    estrategicamente colocado
    em cima de uma mesa,
    vez em quando pego uma
    e escrevo pra vocês.

    Trago comigo uma brisa suave,
    chuva fininha ao cair da tarde,
    um tempo que lentamente escoa,
    palavras fazedeiras que vez por outra ecoam,
    lágrimas no canto dos olhos escondidas,
    cicatrizes, medalhas, algumas feridas,
    a engrenagem dos tempos, a solidão dos loucos,
    um monte de espinhos, ainda restam uns poucos,
    uma gaveta cheia de quinquilharias,
    coisas desimportantes, bobagens, poesia,
    pedrinhas brilhantes, cristais de quartzo,
    ainda bem que as tenho, iluminam meu quarto.

    Trago comigo um canto maldito,
    perdas e danos de um coração aflito,
    harmonias dissonantes, melodia estranha,
    uma garrafa de conhaque, uma sede tamanha,
    uma cigarrilha cubana, muita fumaça, conflitos,
    o sangue coagulado, veias entupidas, detritos,
    a vontade de crescer, apesar dos meus medos,
    um monte de segredos, coração em desterro,
    dúvidas, incertezas, um amontoado de erros,
    ultimamente dei pra rezar, mas o faço em segredo,
    normalmente antes de dormir e ao som de um blues.

  

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