sábado, 14 de outubro de 2017

A VIDA

    NALDOVELHO

    E assim sem mais nem menos
    a vida levantou o véu que cobria meu rosto,
    e extraiu dos meus lábios
    um sorriso doído de solidão e desgosto;
    derramou sobre o meu corpo
    a insanidade de uns poucos
    e com palavras amargas entupiu minha boca.
    
    E não se importou com a minha dor,
    tão pouco com a bagagem que eu trazia,
    muito menos com o amor que eu fora capaz.
    E o que restou foi a lembrança
    do que os seus gestos escondiam,
    e a vontade que nela existia
    de devorar meus sonhos,
    e assim ela os devorou.

    Desligou a televisão, abriu portas e janelas,
    viu florescer pelas ruas o sorriso das crianças
    e os sonhos dos puros de coração;
    mas uma vez mais não se importou;
    acostumada a manipular a realidade,
    fez da sua verdade um manto de incompreensão.

    Foi então que eu percebi
    que ela havia vendado os meus olhos
    na esperança de me fazer como tantos,
    condenando-me aos descaminhos
    dos que perambulam pela escuridão.
    Soçobrei, no entanto, pelos cantos,
    abraçado aos meus poemas:
    asas que eu tenho por dentro
    na busca da minha imensidão. 

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