domingo, 10 de abril de 2016

É TARDE

    NALDOVELHO

    É tarde para voltar a dormir,
    a lua faz tempo se retirou,
    as crianças ainda não conseguem
    caminhar livremente pelas ruas,
    as portas dos templos permanecem fechadas
    e por mais que eu tente não consigo sorrir.

    É tarde para destruir meus poemas.
    Lá fora, um sol arretado de quente
    cozinha os miolos da gente,
    e toda a vez que eu tento dobrar uma esquina,
    alguém vem e me impede dizendo
    que antes eu preciso apaziguar meu coração.

    É tarde para amar outra vez,
    para tê-la novamente em meus braços,
    olhos nos olhos, pele se atritando com pele,
    pernas e braços entrelaçados,
    e eu nem posso pronunciar o seu nome...
    Terra árida, pouca umidade no ar.

    É tarde para ir embora,
    amanha cedo uma nova aurora
    e o galo há de cantar três vezes,
    e certamente eu ainda poderei
    tomar um café forte e melado,
    fumar, quem sabe, mais um cigarro,
    para depois sair por aí.

    É tarde para dizer
    que eu não acredito mais em Você.

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