sábado, 17 de setembro de 2011

CIDADE DOS ANJOS (ARQUIVO)

   NALDOVELHO

   Portas fechadas, ruas desertas,
   nenhuma conversa, janela entreaberta,
   silêncio inquietante em quarto minguante
   e o telefone se toca, desculpe, é engano!

   Cidade vazia, distante e perversa...
   Sobrou um perfume e um livro estranho.
   Cidade dos anjos, caídos, sem sonhos,
   de asas quebradas já não podem voar.

   Ainda resta um poema de versos profanos
   e na madrugada que segue vazia de planos
   um bolero arrastado, um tango e um blue,
   avisam que o dia ainda custa a chegar.

   E mais uma dose de pura aguardente...
   A sede que eu tenho já faz tantos anos,
   cicatrizes que trago, a maioria latentes,
   algumas ardidas ainda sangram se toco,
   outras antigas, exibidas nos olhos,
   que vez por outra ainda choram
   se me ponho a lembrar.

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