domingo, 18 de setembro de 2011

AMARGO (ARQUIVO)


      NALDOVELHO

      Em silêncio remexo em meus guardados,
      minhas memórias, minhas histórias...
      O quarto em penumbra e um certo perfume
      toma conta do ambiente.

      Olho pela janela e lá fora chove,
      chuva fina e insistente.
      Aqui dentro a lágrima,
      teimosa e impertinente.
      Faz tempo mandei a saudade ir embora...
      De nada adiantou, ela não foi!

     Já não bebo mais Martines
     e o que ficou foi o vazio;
     vazio dos dias sonolentos.

     Rádio e televisão desligados
     e um livro chato fechado sobre a mesa.
     O título? Da Janela Do Meu Quarto.
     O autor? Já não o reconheço!
     Provavelmente um romântico,
     um desses que o vazio dos dias calou.

     Acendo um cigarro
     e o que eu trago é amargo...
     Melhor pintar um novo quadro,
     mais uma paisagem deserta,
     gélida e monocromática.
     Violão nem pensar!
     Os acordes teimam em me contrariar.

     Da casa vizinha, janela ao lado,
     o som de um piano incomoda...
     A mesma música de sempre:
     “Eu sei que eu vou te amar,
     por toda a minha vida eu vou te amar”.
     Temo que esta música
     nunca mais vá parar de tocar!

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