NALDOVELHO
Toda a vez que eu me
aproximo
da beira do abismo que
eu cismo,
sinto um frio na espinha
e uma sensação de
tontura,
mãos em garras suadas
e as pernas trêmulas,
quase uma vertigem...
E do fundo da verdade
que temo,
surge uma melodia
estranha
que faz com que se
acenda a ferida
e eu sangro.
Sangro lágrimas ardidas
que escorrem como
espremidas,
e que se transformam em
versos
a dissolver farpas
doídas,
coisas cristalizadas
pelos desencontros da
vida.
Toda a vez que eu me
aproximo
do abismo exercito a
minha loucura,
desafio minha própria
ventura
e imploro que não me
sequem os versos,
que não me cicatrizem as
feridas,
lembranças do que eu
tanto quero.
Toda a vez que eu penso
que posso caminhar assim
impunemente,
uma voz me alerta em
sussurros
que eu não tenha medo do
escuro,
que eu insista em abrir
as portas,
pois além do caminho
nada importa
e que eu devo acreditar
no que eu tenho
depositado em meu
coração.
Toda a vez que eu me
abraço com ternura,
um velho peregrino me
chama,
só para dizer que segue
os meus passos
e que perdoa as coisas
que eu faço,
pois tem delas a
compreensão.
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