sábado, 17 de setembro de 2011

MAR BRAVIO (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   
   Mar tão bravio fustiga o rochedo dentro de mim.
   Força dos ventos, outono de versos, doídos, confessos,
   poemas dispersos, recolhidos às pressas,
   retornam as entranhas.
   Calado o verbo, desafiei a peçonha e não resisti.

   Lágrima cristalizada, inquietude latente,
   as horas que passam, nostalgia presente.
   Quem sabe um blues possa me definir?
   Um canto bandido, ardido e espremido,
   uma garrafa de Vodka já pela metade,
   um cigarro queimando entre os dedos marcados,
   um outro esquecido no cinzeiro largado.
   E mais um Blue!
   Acho que a Janis Joplin passou por aqui!

   Quem sabe as águas que chovem insistentes?
   São águas de março lavando a cidade.
   Quem sabe outra música, revelar a saudade?
   Eu tenho um segredo aprisionado, guardado.
   Quem sabe a Nana possa me redimir?
   A Caymmi é claro!
   A outra é uma poetisa, entendida em desentranhamentos,
   mas anda lá pelas Gerais, não aparece mais por aqui!

   Quem sabe alguém de palavras certeiras, de versos precisos?
   Quem sabe o remédio que eu tanto preciso
   possa abrir a janela, renovar o ambiente,
   me tocar pro chuveiro, jogar fora o cinzeiro?
   Quem sabe um poema brotando em vertentes
   faça ressurgir o poeta que acredita na vida?
   Quem sabe uma outra música?
   Um piano, uma valsa?
   Só não quero um bolero, senão eu choro!
   Quem sabe amanhece e o mar bravio pare
   de fustigar o rochedo que existe dentro de mim?

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