NALDOVELHO
Percebo a chama que
alimenta o drama,
refaço
os laços, os traços, os passos,
remexo
com cuidado em objetos, guardados,
pedaços
de quartzo que ainda brilham,
pequenos
adornos, jóias, contornos,
alguns
poucos retratos amarelados pelo tempo,
muitos
segredos, vivências, enredos,
alguns
mal resolvidos ou inacabados,
lágrimas
reprimidas choradas pra dentro,
dores
não paridas, cristalizadas que estão.
Percebo
a distância que assola meus dias,
percebo
o silêncio no qual eu me abrigo,
releio
algumas cartas, romances antigos,
descubro
que a saudade, ainda hoje, mora comigo,
divide
a minha cama e às vezes reclama,
necessita
mais espaço, pretende crescer.
Descubro
alguns poemas no fundo de uma caixa,
lirismo
engavetado, faz tempo não ouso
permitir
novos carinhos, escolhas, caminhos,
deixar
que coração sufoque a razão.
Percebo
a janela mantida entreaberta,
e
um vento forasteiro a sacudir as cortinas,
perfume
de alfazema a invadir o meu quarto,
e
a lua por vingança não responde ao meu chamado,
diz
que é muito tarde, precisa amanhecer.
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