terça-feira, 15 de novembro de 2016

NOVEMBRO

    NALDOVELHO

    E num repente amanheceu novembro,
    se bem me lembro, de pássaros bandoleiros
    na figueira evidenciando o assalto,
    se não ajo depressa comiam todos,
    não sobrava unzinho pra mim.
    Mas ainda assim primavera,
    de sonhos, imagens, quimeras,
    cheiro de vida espalhada pelos cantos,
    lírios, orquídeas, acalantos,
    violetas a brindar o dia...
    Beija-flor em festa
    fixou morada em meu jardim.

    E num repente amanheceu novembro,
    de lembranças, fantasmas, saudades,
    de versos derramados sem pressa,
    e no ar uma cantiga que se apressa,
    e traz para perto a nostalgia,
    roseira chorona se desespera,
    ainda sente falta do jasmim,
    e eu aqui a inventariar estragos,
    alguns ainda sangram dentro de mim,
    ainda bem que a maioria cicatrizados
    já não doem tanto assim.

    E num repente amanheceu novembro,
    de vento macio e janelas escancaradas,
    de coração apaziguado pela ação do tempo,
    já faz tempo eu estou por aqui,
    e cada dia é uma bênção,
    e cada benção mais um passo,
    coisa de quem acredita
    que vive uma história sem fim.

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