domingo, 4 de setembro de 2016

TANGO INDECENTE

    NALDOVELHO

    Tem um tango indecente
    atormentando em minha mente,
    um corpo de mulher
    alucinando minhas horas,
    uma casa em penumbra
    assombrando meus dias.

    Tem um vidro de perfume
    entornado no colchão,
    uma cigarrilha cubana,
    uma janela entreaberta,
    uma lua derramada,
    uma dor no coração.

    Tem um cheiro forte
    de fera se contorcendo no cio,
    tem um incêndio estranho
    a devorar meu quarto
    e eu assim rastilho de pólvora
    entregue a inevitável explosão.

    E em minhas veias o veneno,
    mistura de saliva e lua derramada,
    um quê de quero não quero
    mais um cálice de absinto
    e este maldito tango,
    minhas pernas, nem sei onde estão.

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