quarta-feira, 6 de junho de 2012

DIAS SEDENTOS (LUZ E SOMBRAS)

    NALDOVELHO

   Às vezes o dia amanhece faminto
   e por mais que se lute contra
   ele se alimenta de você.
   E ao entardecer com olheiras
   você se arrasta pelas ruas,
   tropeça nas esquinas e bares,
   escorrega e cai do meio fio
   e sufocado em seu próprio silêncio
   caminha noite adentro e implora
   que o dia que cruelmente o devora
   acabe ou então se esqueça de você.

   Às vezes o dia amanhece pra dentro
   e por mais que você lute contra
   nada do que acontece lá fora
   diz respeito a você.
   Dias passados sem graça,
   com janelas e portas fechadas,
   lágrimas choradas pra dentro,
   poemas, rascunhos, lamentos,
   e no passar lento das horas
   você desconstrói o que não tinha de ser.

   Às vezes o dia amanhece pra fora
   e ainda que lhe faltem pedaços
   devorados pelos dias de outrora,
   você caminha do quarto pra sala
   com a coragem dos dementes,
   que buscam na poesia argumentos
   e ao abrir sua janela, descobre,
   que às vezes o dia nasce sedento
   da vida que existe em você.

2 comentários:

  1. Que lindo, Naldo, os dias nos consomem e nós os consumimos, o dia de ontem foi lindo, obrigada, grande amigo, bjs

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  2. Profundamente belo,caro bardo
    minha alma se emociona sempre
    no mergulho em suas palavras.

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