quarta-feira, 19 de agosto de 2015

ASAS DE COLHER SENTIMENTOS

    NALDOVELHO


    Com o olhar fixo para o firmamento,
    ela voou com suas asas
    de colher sentimentos.
    Pousou no braço esquerdo
    de um pequeno riacho
    e no burburinho das águas,
    matou sua sede e
    sob a proteção de um rochedo,
    adormeceu.

    Sonhou com colibris,
    araras e sanhaços,
    conversou com um arvoredo
    que existia por ali,
    e abraçada a uma quaresmeira
    aprendeu com os ventos
    palavras fazedeiras de poemas.

    Depois de um tempo,
    voou de volta pra casa
    com suas asas carregadas
    de sentimentos.
    Pousou num velho flamboyant
    que existia em frente a sua janela,
    e de lá, perscrutou toda a cidade.

    Quando anoiteceu,
    voltou para o seu quarto
    e ao se olhar no espelho percebeu
    que nunca mais seria a mesma:
    em seus olhos, vestígios daquele riacho;
    por dentro, a inquietude de um arvoredo;
    e de sua boca brotavam  sementes de pé de vento.

    Daquele dia em diante,
    todos os dias ela se transforma em pássaro,
    às vezes com asas de firmamento,
    em outras com asas de voar pra dentro,
    mas sempre com asas de colher sentimentos.