NALDOVELHO
E existia aquela velha senhora que pelas ruas
do meu bairro, gostava de distribuir sorrisos e se alguém se aproximasse e
permitisse, distribuía abraços também.
Era uma mulher cheia de alegria, mas com o
corpo lapidado pelas agruras desta vida e trazia cicatrizes que ninguém via,
mas que existiam, acho que por dentro.
O povo diz que era uma grande rezadeira, eu
só sei que ela pouco falava e quando o fazia era numa língua estranha que ninguém
entendia. Tão pouco sabíamos o seu nome,
e eu acho que nem ela sabia, pois quando perguntada, ela simplesmente sorria.
Nem faz muito tempo, numa noite escura de
outono, relâmpagos, muita chuva e ventania, num repente ela desapareceu e no casarão
abandonado onde dormia, nem seus panos velhos encontraram, e no cômodo que ocupava
só uma imagem de Santa Barbara ao lado de uma estranha marca no chão, que mais
parecia ser feita a fogo, e um forte e delicioso cheiro de arruda a tomar conta
do lugar.
Hoje, eu fico aqui pensando na falta que ela
nos faz, pois pelas ruas ninguém mais sorri; abraço então, nunca mais eu vi, e há
pouco, pela manhã, na velha casa abandonada, um monte de homens e máquinas
trabalhavam na demolição e removiam todo o entulho, escombro ou não!
Disseram que vão construir por ali um asilo,
um desses lugares onde se guardam idosos, gente que quase não sorri e só fica
esperando a sua hora de partir.
Coisa esquisita anda acontecendo pelas ruas
do meu bairro, o povo anda meio sem graça, só falta de repente descobrir que eu
também não vivo mais por aqui.
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