quarta-feira, 17 de setembro de 2014

EU NÃO SABIA

    NALDOVELHO

    Ela gostava de traçar caminhos
    que me trouxessem de volta ao cais,
    e quando eu ali chegava
    invariavelmente a encontrava
    vestida de horizonte,
    perfumada e amante,
    com seus olhos de devorar,
    com sua boca de beijar,
    beijos adocicados,
    vermelhos, molhados.

    E ela gostava de sussurrar indecências
    nos meus ouvidos atentos,
    e de dar de beber aos meus lábios sedentos,
    e assim me abrasava em seu colo,
    se embaraçava em meus pelos,
    depois, adormecia e ronronava
    sonhos de varar madrugadas,
    para no dia seguinte
    transformá-los em poesia,
    mantras sagrados de maré cheia,
    que cada vez mais me seduziam
    e eu não sabia!

    E ela gostava que eu fosse embora,
    só para poder sentir saudades, ela dizia,
    só para poder chorar distâncias,
    e aí, escrevia mais poemas,
    e esculpia nas pedras seus sonhos,
    e assinava embaixo meu nome...
    
    Muito do que lhes conto hoje, lhe pertencia,
    só que na época eu não sabia.

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