NALDOVELHO
No lugar
onde residem minhas memórias
caminham de
um lado para o outro
um batalhão
de soldadinhos de chumbo,
um
palhacinho tocando bumbo,
uma mocinha
prendada com o peitinho de fora,
já nem
lembro o nome dela, mas isto não importa agora,
um gato
safado, o nome dele era veludo,
um menino
franzino que tinha medo do escuro,
o babaca do garoto
que roubou meu carrinho de rolimã.
Num canto da
casa onde residem minhas memórias,
um trenzinho
sem trilhos, um pote de bolas de gude,
revista de
mulher nua, perdi minha virtude,
uma montanha
de livros, já lidos e relidos,
uma cortina
rasgada, tecido puído,
várias
promessas, parte delas quebradas,
muitos
desenganos, farpas espetadas,
retratos
amarelados, uma tapeçaria inacabada,
uma paixão
de criança, namoradinha de portão.
Na zona onde
residem minhas memórias,
ruas e
esquinas de uma cidade deserta,
uma porta
fechada, uma janela entreaberta,
um beijo molhado,
um reinado sem trono,
sentimentos
estranhos, histórias sem dono,
uma lua
cheia enlouquecida, cicatriz ardida,
foram dias e
noites a lamber as feridas,
escrevi
vários livros, madrugadas de outono,
construí uma
casa com as sobras da demolição.
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