NALDOVELHO
Lembro bem da menina que de sua janela acenava toda a vez que eu
passava. Cabelos pretos escorridos, sorriso alegre como o dia, olhos verdes,
cristalinos, águas claras de nascente.
Certa feita, parei para conversar e dali em diante todos os dias
assim o fazia. Pobre menina sorridente que do seu quarto não saia, que de sua
cama, sequer levantava, mas ainda assim sorria e dizia, ao seu jeito, ser
feliz.
Pensei em pedir pra namorar! Mas Vó Miudinha então disse: filho,
ela está só de passagem, anjos não vêm aqui pra namorar, logo-logo, ela vai
embora!
E eu pensava: Vovó não sabe de nada, anjos de verdade têm asas!
Qualquer dia ela sai daquele quarto e vem pra rua brincar.
Mas sair ela não podia, parecia não ter pernas e se as tinha para
nada serviam.
Foi num dia triste, princípio de junho, à tardinha eu retornava da
escola e os meninos em frente da sua casa diziam que ela não mais iria voltar.
Foi aí que percebi o quanto Vó Miudinha era sabida e que nem sempre anjos têm
asas, e que às vezes nem tem pernas! Será como que a minha vó sabia?
Ao entrar em casa fui logo perguntando... E ela num misto de
tristeza e alegria, assim falou: e só olhar nos olhos meu filho, um dia você
aprende a identificar aqueles que por aqui passam, só para despertar nossa
capacidade de amar.
Não sei o porquê, mas até hoje quando caminho por aquela rua, em
frente daquela casa, tenho a impressão de vê-la na calçada, até escuto a sua
voz me chamando para brincar.
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