NALDOVELHO
Eu costumava andar
pelas madrugadas
na beira da calçada,
bem ali, pelo meio fio,
só para sentir no corpo
a possibilidade do tombo,
o perigo, o arrepio, o assombro.
Eu costumava andar
em dias de cidade chuvosa,
só para sentir no corpo
a possibilidade da água,
coisa de menino vadio,
que acreditava que só assim
conseguiria ficar de alma lavada
e teria de Deus o perdão.
Eu costumava escrever
muitas cartas de amor
só para sentir na alma
a possibilidade da paixão,
até que um dia
vi meu corpo fatiado em postas:
angústia, solidão, loucura, saudade,
coisa típica de poeta,
tolices de um apaixonado,
fraquezas de um coração.
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