NALDOVELHO
Um homem carrega suas
glórias por ruas sombrias e lamacentas, habituado a deturpar a
história, deita e adormece abraçado a um triste fim que ignora. Um outro
chora em seu quarto pelos outonos desperdiçados, faz tempo, pelos caminhos
desprezados por dentro e na esperança de ser libertado, se ajoelha, se
martiriza e ora.
Uma criança padece
faminta na escadaria de acesso a um templo e a sociedade a lhe oferecer como
esmola a fumaça de um cachimbo nojento e o excremento numa lata de
cola. Outra criança aprisionada implora por um carinho, uma palavra, um
alento, olha para as ruas da janela do seu quarto, não sabe das dores que
existem lá fora, não sabe que o mundo embrutece e devora.
Uma mulher escreve
uma carta que diz do amor de outrora, do desejo que lhe arde por dentro e das
farpas espetadas em seu corpo... Não consegue superar a perda e o desgosto.
Outra mulher amamenta seu filho, busca um alimento no quintal de sua casa, diz
que Deus escreveu seu futuro numa árvore que um homem malvado pela lenha
derrubou e lamenta a pouca poesia que lhe restou.
Um religioso vocifera
nervoso, promete o inferno a quem pense diferente e que seu deus lhe deu o dom
de curar toda a dor, usa a oração como se fosse uma algema e desconhece o
poder da palavra amor. Outro negocia e absolve pecados, diz que aqueles que
quiserem o milagre terão que pagar um dízimo a cada hora, mercador que é das
benesses divinas edifica templos mal cheirosos, latrinas.
E o povo coitado,
envolto nessas teias, não consegue ver a armadilha, o engodo e cada dia que
passa mais se aprisiona e sofre, não sabe que o amor abre portas, caminhos, não
consegue escrever o seu próprio destino.
Abraçado a sua dor
Jesus chora e implora: perdoa-os Pai eles não sabem o que fazem!
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