NALDOVELHO
Numa pequena vila, pertinho de onde eu morava, existia uma casa
avarandada com jardins que invadiam a calçada e lá, eu conheci uma menininha de
cabelos pretos e escorridos, nariz arrebitado e atrevido, que numa noite fria
de outono acenou para mim. Pediu que eu me sentasse ao seu lado e assim sem
mais nem menos incendiou meu coração. E ela me olhou com seus olhos de tigresa,
e eles brilhavam como esmeraldas, coisa mais linda de se ver.
Sentados na varanda, ela fez ferver o sangue do aprendiz de poeta,
falou coisas bonitas, beijou beijos molhados, saliva com gosto de amoras, e
eram quentes e ousados, e enlouqueceram o menino que atrevido ousou acariciar
suas pernas, que não sabia mais o que fazia, que levado pela energia daquele
momento mágico, vibrou e imaginou um sonho povoado por um romance que mais
tarde ele viria a saber, nunca iria acontecer.
E de repente ela se levantou, e tirado nem sei de onde, me deu um
pequeno lencinho perfumado, que trazia o seu nome bordado em delicadas linhas
vermelhas, e no centro do lenço amoras, uma rosa e um pássaro com as asas
abertas, pronto para voar. Depois, me olhou assim de soslaio, me beijou com
carinho e com um sorriso triste, disse adeus e entrou.
No dia seguinte, voltei lá feito um desesperado, para um novo e
necessário encontro, mil perguntas fervilhavam em minha mente, tantas coisas a
serem ditas... Mas a casa estava fechada, nem uma viva alma respondia, e o
vizinho que morava ao lado a estranhar minha aflição e interesse, apressou-se a
me dizer que faz tempo a casa estava abandonada, pois a menininha que ali vivia,
havia morrido de uma trágica queda numa tarde ensolarada de novembro quando
colhia amoras em seu quintal.
Durante um bom tempo, todos os anos, entre os meses de setembro a
novembro, uma vez por semana, eu passava por lá e deixava naquela varanda um
pratinho cheio de amoras, só para acarinhar a menininha que eu mal pude
conhecer.
Vez em quando eu sonho com ela. Outro dia após escrever mais um
poema, tive a nítida impressão de ouvir sua voz a me dizer: eu posso falar com
você? Ainda guarda o meu lencinho?
A vila não mais existe, construíram por lá um prédio de dez
andares. Pena! Mas no fundo do meu quintal eu plantei uma amoreira e lá a
passarinhada se diverte. É uma espécie de santuário, onde numa caixinha de madrepérola
repousa aquele lencinho, numa homenagem que eu faço a uma pequena história de
amor, um sonho que eu não pude viver.
Ainda guarda o meu lencinho?
ResponderExcluirAi que linnnnnndo...!!!
Mari Meyer