NALDOVELHO
Loucura, solidão,
clausura. A fresta de janela que eu abro só aumenta a tortura, não permite ao
vento o acesso e o ar permanece viciado aqui dentro. Só uma nesga de luz me
invade e não dissipa a escuridão. O pedaço de pão que ofereces não mata minha
fome, engasga na garganta, só aumenta a minha sede e me causa aflição.
E nem adianta ligar o
rádio, as músicas que tocam ferem meus ouvidos e as notícias que surgem sangram
minha alma. Não há nada de novo que mereça um sorriso, um poema, uma
canção.
Jerusalém está em
chamas, Trípoli apodrece nos escombros de uma guerra fratricida, Damasco,
Beirute... Teerã afunda no fundamentalismo raivoso e o Pai a tudo observa e
chora.
Por aqui: médica é
assassinada a tiros na Gávea, dois homens morrem em tiroteio na Vila da Penha,
mãe envenena e mata filha de oito meses na Taquara, moradores do Morro do
Borel, na Tijuca, protestam por morte de garoto, homem é encontrado baleado na
Abolição, morre menino baleado em escola na Ilha do Governador. Algumas das
muitas notícias da semana, última de setembro, início de primavera, na cidade
de São Sebastião do Rio de Janeiro. Aqui como lá, e em todo o lugar, não há
nada de novo nas horas e tudo caminha a passos rápidos para o naufrágio, para o
caos.
O carinho que ofertas
não cura minha dor, não seca minhas lágrimas, não acalma meu coração e o medo
suprime meus poemas, emudece melodias, e o que permanece é o barulho surdo dos
tambores a sufocar friamente toda a inspiração.
Olho pela fresta da
janela e Te vejo, ainda, crucificado e percebo que estás vivo, sofrendo por
teus irmãos.
Por piedade, tirem
urgentemente este Homem da Cruz!
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