NALDOVELHO
Novela das sete,
novela das oito,
faca afiada abre um sulco no rosto
da cidade sitiada por
omissões e desgostos
e lhe expõe as entranhas de forma estranha,
revelando a
vergonha que reside em nós.
Revela o pivete, o
sinal, a gilete
que na palma da mão agride a quem passa
e a lata de cola
cheirando à esmola,
excremento infame de quem nada oferece.
Revela o lodo, alguns
pensam que é sangue,
a correr pelas veias, valas negras, sarjetas.
Revela o
engodo a camuflar todo o nojo,
realidade maquiada, novela das sete.
Revela o ardil, o
Ar-15, o fuzil
e a bala perdida, mais um que partiu.
Revela os ritos,
tribais, primitivos,
irmandades forjadas a ferro e fogo, feridas,
comandos
encarcerados a governar nossas vidas.
Revela a incoerência
de que consome e mente,
faz questão de vestir o branco da paz,
mas depende de
um branco pra fazer o que faz.
Revela a cicatriz
talhada em concreto...
Linha Vermelha e Amarela, acessos diretos
a transformar
as pessoas em meros objetos,
sombras apressadas e pelo medo, acovardadas.
Revela um padroeiro
que morreu prisioneiro
e que até hoje agoniza caçador de si mesmo.
Faca afiada abre um
sulco na carne,
dilacera as entranhas e expõe toda a sanha
dos que acreditam
que o povo é um mero estorvo,
que a justiça é um entrave e o traficante um
detalhe,
e que apesar disso tudo, há sempre um lucro eminente,
ainda que ao
custo de dores urgentes
paridas no ventre de tanta gente inocente,
anestesiados
que estão, novela das oito,
se desligarem a televisão, morrem de inanição.
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