NALDOVELHO
Foi sem o menor
aviso! De repente a porta se abriu suave e lentamente e ela então invadiu-me o quarto com ares de quem sabia o que buscar, e principalmente onde encontrar.
Eu nada disse! Também nem podia, as palavras soterradas diante daquela imagem
tão bela e ao mesmo tempo tão estranha. Um forte pressentimento de que algo
estaria por acontecer, algo que eu ainda não entendia, mas que francamente, não
tinha a menor vontade de evitar.
Perfume, discreto,
delicioso e envolvente, feito embriaguez disfarçada, e inclementemente
desejada... Foi assim que aconteceu! Algumas palavras, doces palavras, um olhar
penetrante, e uma vez mais, eu nada conseguia dizer, nada me ocorria e o
silêncio era naquele instante a atitude mais sensata diante daquela atmosfera
de mistério e prazer.
Percebi num relance
que ela já se punha descalça a caminhar de um lado para o outro do quarto, como
se estivesse a me estudar e a premeditar seus próximos passos. Fechou mal
fechada a cortina, apagou as luzes, deixou apenas e tão somente ligado, um
pequeno abajur de sedutora penumbra, que junto com a luz da lua que penetrava
pela cortina entreaberta, me permitiam a visão daquele momento raro, precioso e
sagrado.
Uma vez mais em
silêncio, só me restou continuar a observar, a saborear e a me embriagar até
não mais poder. Movimentos provocantes num jogo de luz e sombra a enaltecer seu
corpo e uma música suave a brotar das paredes, do teto, do chão, de todo o
quarto. Metais em surdina, bem temperados, num blues impiedoso e visceralmente
mal intencionado.
Primeiro a alcinha de
um vestido meio transparente, generosamente decotado; depois a outra... E meio
assim como por querer ela se aproximou. Olhar ainda mais envolvente, o bico do
seio esquerdo a se mostrar contundente e a desafiar-me o silêncio. O outro
seio, meio assim escondido, porém não menos ousado, a impedir a queda do
vestido, mas que num ligeiro contorcer de ombros revelou sua intenção.
Ela dançava em minha
frente, e eu cada vez mais excitado, com minhas mãos trêmulas busquei-lhe o
corpo. Já não mais existiam roupas, apenas uma pequena peça, última fronteira,
última barreira... Meu corpo arrepiado ao perceber aqueles pelos deliciosamente
anunciados. Minhas mãos incontidas, lentamente em suas coxas, em seu colo. Um
conveniente lacinho que se desfez com carinho e revelou por inteiro o caminho
encantado e ansiosamente desejado. Beijei-lhe os lábios, ambos, com muito amor
e cuidado, beijos longos e molhados.
Percorri com a
língua, todas as dobras e lados, rocei com os dentes o bico do seio esquerdo,
salientemente excitado. Já não mais reconhecia as minhas pernas,
embaralhadas com aquelas outras pernas, a me sentir assim como uma muralha, que
fora, facilmente ultrapassada... Derrotado eu tombei, entregue a tamanha sanha.
Mantive apenas os
olhos entreabertos, não poderia perder tal cena, ver aquela mulher a cavalgar
abusada em meu corpo, até chegarmos a um longo e demorado orgasmo, que deixou
fortemente impregnado em meus poros aquele cheiro e em minha pele a sensação do
roçar de corpos, quentes, molhados, melados, coisa que eu nunca mais vou
esquecer.
Ainda me lembro
bem! Lá fora a noite ia alta, abri as cortinas e percebi que a lua havia
se posto, tal qual sentinela em frente a minha janela. Olhei de novo para a
cama para saborear mais uma vez aquela imagem, a espera de encontrá-la
adormecida, abraçada em meus lençóis...
Para o meu sofrimento
e espanto, lá não havia mais ninguém. Não havia mulher alguma em meu quarto. Eu
estava só, irremediavelmente só! Eu e minha loucura, eu e o meu desejo de que
aquele ser, misto de feitiço e miragem, voltasse e dissesse: te amo! Nada, não
havia nada, nada aconteceu. Foi tudo um pesadelo, ou um sonho, sei lá!
Talvez o nome dela
seja insônia, talvez seja solidão, quem sabe ela se chame saudade de alguém que
eu nem sei se conheço ou se um dia vou conhecer.
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