NALDOVELHO
Chove dentro
do meu quarto.
Lá fora:
ardência, incoerência, estiagem.
Aqui dentro:
rio de incertezas,
águas turvas
de outubro,
corredeiras
dentro de mim.
Minha alma se
debate inutilmente,
desafia as
pedras, meus medos,
recusa as margens,
segredos,
atravessa
desfiladeiros e vales
e deságua
numa noite sem fim.
Agora chove dentro
de mim.
Lá fora: anjos caídos choram,
se arrependem de terem debochado da aurora,
sentem frio,
fome, sede e imploram,
pedem que os libertem
da maldição.
Aqui dentro:
o poeta se cala,
entristecido
com a loucura dessa gente
que
aprisionou águas e destruiu nascentes.
Olha pela
janela e se sente um estranho,
e em
silêncio, mergulha em sua solidão.
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