domingo, 26 de outubro de 2014

ESPINHOS

    NALDOVELHO

    Tenho espinhos espetados pelo pé,
    lembranças do tempo
    que eu caminhava pela fé.
    Tempos consagrados à loucura
    de acreditar que tudo eu podia
    e não importa o que eu fizesse,
    ainda assim o merecia!
    Ergui pontes que uniam cidades
    que não se conheciam,
    e nessa faina destruí vidas
    que não aceitavam o que eu dizia.
    Hoje quando volto a esses lugares,
    vejo medo e incompreensão
    nos olhos daqueles
    que nunca se viram como irmãos.

    Tenho as minhas mãos dilaceradas
    por abrir clareiras, derrubar fronteiras...
    Tempos consagrados ao trabalho
    de levar Sua palavra a todos lugares
    e não importava as crenças
    que por lá cultivavam!
    Mais uma vez destruí vidas
    daqueles que não aceitavam
    minhas palavras como Suas.
    Hoje ao caminhar por essas estradas
    sinto a dor daqueles que sofreram
    e escuto o grito daqueles que pereceram.

    Hoje eu tenho em meu corpo muitas chagas
    e em meu coração uma certeza:
    muitos dos que padeceram em minhas mãos
    hoje se sentam a Sua mesa
    e eu ainda luto para merecer Seu perdão.

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