NALDOVELHO
Na parede
do meu quarto
pintei uma imensa
e luminosa janela
e nela, uma enorme
lua nublada
para que toda
sexta-feira,
um pouco
antes da meia-noite,
ela possa invadir
meu quarto
e assim
aconchegados possamos dançar.
Uma garrafa
de uísque, um balde de gelo,
eu pessoalmente
prefiro um conhaque,
um maço de
cigarros, e na vitrola,
sempre a
mesma música: Tenderly!
Lady Day
gosta de caminhar
e cantarolar nua pelo meu
quarto,
adora ler meus
poemas,
e diz não
entender o porquê
de tanta
angustia e nostalgia
nas coisas
que eu costumo escrever.
Outro dia
ela me disse
que a poesia
que eu faço
é filha bastarda
do jazz!
É! Acho que
ela tem razão.
No fundo, no
fundo,
a minha poesia
para ser boa
tem que ser
meio maldita,
coisa
esquisita que sangre
pelas pontas
dos dedos,
hemorragia
disfarçada em palavras,
que é para
ninguém poder ver.
Lá pelas
tantas, quase madrugada,
ela sussurra
em meus ouvidos
um blues visceralmente
ardido
e com um
sorriso amargo nos lábios,
se despede e
pergunta: até quando?
E eu lhe respondo:
enquanto houver
poemas para escrever.
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