sábado, 18 de outubro de 2014

NO MEIO DA MINHA DESORDEM

    NALDOVELHO

    No meio da minha desordem:
    um sonho interrompido,
    um gemido de dor,
    uma ferida em carne viva,
    uma vidraça estilhaçada,
    papeis amontoados em cima da mesa,
    poemas que eu não consigo escrever
    e um monte de penas
    espalhadas pelo quarto,
    coitado daquele pássaro,
    acho que estava na muda,
    não pode cantar o seu pranto
    e ficou encolhido
    na prateleira da estante
    até o inverno passar.

    No meio da minha desordem:
    um álbum de retratos,
    um sorriso amargo no rosto,
    um cheiro de terra molhada,
    uma tapeçaria inacabada,
    uma vela de sete dias
    acesa num canto do quarto,
    um gosto estranho na boca
    pela falta dos teus lábios,
    na parede do quarto um quadro,
    paisagem gélida e monocromática,
    e o tempo a dedilhar numa viola
    uma toada estradeira
    que fala de amores derradeiros,
    foram tantos, que não cabem mais.

    No meio da minha desordem
    esperando o inverno passar.

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