NALDOVELHO
Eu busco minha sabedoria
nas horas mornas que povoam o dia,
nos menores gestos de ternura,
nos pequenos sinais de loucura,
nas sombras que assombram meus
sonhos,
nas ideias que eu teimo e proponho,
nos monstros que me habitam as
entranhas,
na danada da inquietude que ainda
arranha,
nas perguntas que eu não consigo
fazer,
na vontade que eu tenho de crescer.
Minha sabedoria eu procuro
nas dores escondidas num canto
escuro,
na importância de cada um de nós,
no emaranhado de fios e em seus inúmeros
nós,
nos enredos alinhavados, histórias,
nos ensinamentos guardados em minha
memória,
nos desencontros, desenganos,
desencantos,
na esperança cultivada no silêncio do
meu pranto,
nas asas que eu tenho de voar por
dentro,
na mania que eu tenho de negociar com
o tempo.
Eu busco minha sabedoria
nos pensamentos adocicados na
heresia,
nos erros que eu cultivo em segredo,
já faz tempo e eu ainda sinto medo,
nos momentos de solidão e clausura,
quarto vazio, noite fria e escura,
no amanhecer de uma cidade nublada,
na teimosia em caminhar com as pernas
trocadas,
nos poemas que eu insisto em
escrever,
quem sabe um dia você possa ler e
entender.