NALDOVELHO
Certa feita, já faz um
bom tempo, com esta mania de colecionador que tenho, cismei em ter na
prateleira da minha estante um bom punhado de entardeceres, desses de sol
mergulhando nas águas, diversos tons de dourado, banhados de nostalgia, coisa para
nunca mais se esquecer.
E assim saia eu todos os
dias a colher tais preciosidades, e junto, acabava por trazer tantas outras,
agregadas que estavam: brisa macia que varria a cidade, beira do mar a inspirar
poesia, praia deserta, solidão e desassossego, e lá pras bandas do meu desterro,
aqueles rochedos que insistiam em sobreviver à fúria do mar. E aquele era o lugar
ideal para se colher pedrinhas, conchinhas e os mais lindos poemas que eu já consegui
escrever, e é claro: os mais lindos entardeceres.
Só que com o tempo,
prateleiras eram poucas em minha estante, e os entardeceres eram tantos e tão
belos, que derramados pelo quarto ocupavam todo o espaço e eu acabava
entardecendo também.
Foi então que lembrei
Vó Miudinha e suas sapiências, e já me sentido assim meio acabado, orei pedindo
ajuda e orientação. Vó Miudinha velha sabida que era, lá de longe respondeu: para
curar a nostalgia que brota da tarde, eu precisava colher madrugadas; muitas...
E que fossem todas encharcadas de orvalho, pois só assim eu conseguiria
amanhecer.
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