NALDOVELHO
E num repente amanheceu novembro,
se bem me lembro, de pássaros bandoleiros
na figueira evidenciando o assalto,
se não ajo depressa comiam todos,
não sobrava unzinho pra mim.
Mas ainda assim primavera,
de sonhos, imagens, quimeras,
cheiro de vida espalhada pelos
cantos,
lírios, orquídeas, acalantos,
violetas a brindar o dia...
Beija-flor em festa
fixou morada em meu jardim.
E num repente amanheceu novembro,
de lembranças, fantasmas, saudades,
de versos derramados sem pressa,
e no ar uma cantiga que se apressa,
e traz para perto a nostalgia,
roseira chorona se desespera,
ainda sente falta do jasmim,
e eu aqui a inventariar estragos,
alguns ainda sangram dentro de mim,
ainda bem que a maioria cicatrizados
já não doem tanto assim.
E num repente amanheceu novembro,
de vento macio e janelas escancaradas,
de coração apaziguado pela ação do
tempo,
já faz tempo eu estou por aqui,
e cada dia é uma bênção,
e cada benção mais um passo,
coisa de quem acredita
que vive uma história sem fim.
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