NALDOVELHO
Vida que escorre, ampulheta bendita!
Cada grão de areia um momento,
e o tempo sedento pede por mais vida,
e o meu coração valente resiste,
tem sempre mais um por do sol,
uma noite nostálgica, um poema,
uma madrugada molhada de sonhos,
um amanhecer em festa,
e a passarada traz notícias dos
longes,
há sempre uma esperança no ar,
defeito dos que creem em Deus.
E no teto do meu quarto
uma orquestra de pirilampos e
estrelas,
e uma lua exibida e faceira
me chama para mais uma dança,
mas exige que seja um bolero,
gosta de dançar agarradinha,
só para poder sussurrar indecências,
lua danada, adora uma saliência!
Seu retrato da cabeceira da cama
sorri,
e diz que eu não tomo jeito,
adoro mergulhar numa viagem.
Mas ao longe eu percebo
uma cidade que transpira incertezas,
becos sombrios, esquinas desertas, tristezas...
Faz tempo não ando por suas ruas,
faz tempo vivo exilado em meu jardim,
cultivando bromélias, lírios e
jasmins,
prisioneiro dos meus próprios poemas,
sorvendo a vida que pulsa dentro de
mim.
Encantamento de poeta!
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