NALDOVELHO
Abre a janela e deixe
primavera amanhecer em seu quarto.
Ando muito assustado com a quietude
dos sonhos,
com as noites acinzentadas de
abandono,
com a indiferença das palavras,
com a solidão que às vezes você se propõe.
Abre a janela e deixe
que a primavera derrame pelo chão do seu
quarto
coisas que por descuido você esqueceu.
Ando muito assustado
com as folhas de papel entristecidas,
com as folhas de papel entristecidas,
com a cadeira de balanço vazia
e como o tempo a devorar seus dias.
Abre a janela e deixe
que a vida percorra os quatro cantos
do quarto,
e imóvel permita que ela beije sua
boca,
acaricie seus cabelos, dissolva seus
receios...
Ando muito assustado com a sua
incapacidade
de se imaginar amando outra vez,
e uma vez mais, por que não?
Abre a janela e deixe
que o vento macio que acaricia a
cidade
varra de dentro de você a solidão e a
saudade.
Ando muito assustado com as impossibilidades.
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