quarta-feira, 2 de novembro de 2016

ABRE A JANELA E DEIXE

    NALDOVELHO

    Abre a janela e deixe
    primavera amanhecer em seu quarto.
    Ando muito assustado com a quietude dos sonhos,
    com as noites acinzentadas de abandono,
    com a indiferença das palavras,
    com a solidão que às vezes você se propõe.

    Abre a janela e deixe
    que a primavera derrame pelo chão do seu quarto
    coisas que por descuido você esqueceu.
    Ando muito assustado 
    com as folhas de papel entristecidas,
    com a cadeira de balanço vazia
    e como o tempo a devorar seus dias.

    Abre a janela e deixe
    que a vida percorra os quatro cantos do quarto,
    e imóvel permita que ela beije sua boca,
    acaricie seus cabelos, dissolva seus receios...
    Ando muito assustado com a sua incapacidade
    de se imaginar amando outra vez,
    e uma vez mais, por que não?

    Abre a janela e deixe
    que o vento macio que acaricia a cidade
    varra de dentro de você a solidão e a saudade.
    Ando muito assustado com as impossibilidades.

Nenhum comentário:

Postar um comentário