terça-feira, 10 de junho de 2014

GRAVATINHA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

    NALDOVELHO

    Eu conheci um sujeito,
    que o povo chamava de Gravatinha,
    gostava de sonhar com a lua
    e dizia que volta e meia
    comia uma estrela que ele encontrava
    bêbada pelas esquinas
    e que eram suas as coisas que descobria
    quando garimpava pelas ruas.
    Já faz um tempo me mostrou um poema,
    e nele a palavra estupefato,
    que ele jurava ter criado
    numa noite de lua cheia,
    lá pros lados do Preventório,
    num tête-à-tête com uma sereia.
    Sujeito sabido era esse tal de Gravatinha,
    até conversar com poste ele sabia,
    e dos pássaros ele dizia
    conhecer as manhas que escondiam.
    Adorava beber um pinga,
    e não poupava nem as de um despacho,
    dizia que o santo permitia,
    e dava gargalhadas quando avisavam:
    - um dia vai dar merda Gravatinha!
    Quarta-feira passada, eu fiquei consternado,
    disseram que o pobre coitado
    foi acertar as contas com os compadres,
    e tudo por culpa de uma das estrelas
    que o povo fala que ele comeu.
    Comer estrela é complicado!
    Dizem que essa tinha dono,
    um cara de andar macio,
    dono de muitas esquinas,
    que eu nem me atrevo a falar o nome.
    Mas já houve também quem dissesse
    que ele anda recolhido lá no Preventório,
    pois de tanta cachaça de santo que bebeu,
    parece que enlouqueceu!
    Pobre do Gravatinha!
    Comer estrela, beber cachaça de santo...
    Tanto fez, tanto fez,
    que eu acho que ele se fodeu!


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