NALDOVELHO
Não
falo de um amor pleno, meloso,
untado
de ternura, prestimoso!
Falo
de um amor estilhaçado,
com espelhos e vidraças quebradas,
garrafa
de conhaque pra baixo da metade,
ou
então de embriaguez consentida
por
vinho doce derramado pelo corpo
e
a língua a demonstrar perícia e esforço
na
faina de te provocar um orgasmo,
um
que seja desesperado e convulsivo,
com
tuas pernas a apertar meu pescoço
aprisionado
por tanto e dolorido prazer.
Não
falo de um amor bem comportado,
coisa
suave e aveludada!
Falo
de corpos suados, asperezas,
janelas
entreabertas em noites incertas,
sentimento
ardido de coisa mal resolvida,
e
um trompete insidioso e profano,
com
lágrimas escondidas por conta de desenganos,
saudade,
nostalgia, despedida,
e
o teu cheiro impregnado em minhas cobertas,
e
aqui dentro de mim acontece um estrago,
e
como um louco a vagar por entre escombros,
eu
teimo em não te esquecer.
Não
falo de um amor subalterno,
coisa
mansa de sentimento puro e etéreo!
Falo
de tuas presas em meu pescoço,
de garras em minhas costas cravadas,
e
em minhas veias a circular teu veneno,
e a tua boca a me devorar por inteiro,
e
eu, assim como caça abatida entre os dentes
com
minhas pernas embaralhadas as tuas,
já
nem sei dar conta do tempo,
só
sei que não mais importa o mundo lá fora,
pois
não há como sair daqui, ir embora,
preso
em tuas teias só me resta morrer.