domingo, 1 de dezembro de 2013

EM TUAS TEIAS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   NALDOVELHO

   Não falo de um amor pleno, meloso,
   untado de ternura, prestimoso!
   Falo de um amor estilhaçado, 
   com espelhos e vidraças quebradas,
   garrafa de conhaque pra baixo da metade,
   ou então de embriaguez consentida
   por vinho doce derramado pelo corpo
   e a língua a demonstrar perícia e esforço
   na faina de te provocar um orgasmo,
   um que seja desesperado e convulsivo,
   com tuas pernas a apertar meu pescoço
   aprisionado por tanto e dolorido prazer.

   Não falo de um amor bem comportado,
   coisa suave e aveludada!
   Falo de corpos suados, asperezas,
   janelas entreabertas em noites incertas,
   sentimento ardido de coisa mal resolvida,
   e um trompete insidioso e profano,
   com lágrimas escondidas por conta de desenganos,
   saudade, nostalgia, despedida,
   e o teu cheiro impregnado em minhas cobertas,
   e aqui dentro de mim acontece um estrago,
   e como um louco a vagar por entre escombros,
   eu teimo em não te esquecer.

   Não falo de um amor subalterno,
   coisa mansa de sentimento puro e etéreo!
   Falo de tuas presas em meu pescoço,
   de garras em minhas costas cravadas,
   e em minhas veias a circular teu veneno,
   e a tua boca a me devorar por inteiro,
   e eu, assim como caça abatida entre os dentes
   com minhas pernas embaralhadas as tuas,
   já nem sei dar conta do tempo,
   só sei que não mais importa o mundo lá fora,
   pois não há como sair daqui, ir embora,
   preso em tuas teias só me resta morrer.

  

5 comentários: