NALDOVELHO
O arrepio, o precipício, o sobressalto,
a interminável sede, a angustia
da fome,
a inevitável volta ao passado,
fazer de conta que está tudo
acabado,
abrir a janela, fazer um
escândalo,
expulsar fantasmas do quarto,
começar tudo outra vez.
A vontade de tomar um conhaque,
quem sabe fumar um cigarro,
me apaixonar novamente por você,
abrir a porta, sair mundo afora,
acordar no meio da noite
em alguma cidade estranha,
começar tudo outra vez.
Dentro em pouco amanhece
e o sol desconhece minhas razões,
manhã cedo, mês de maio, outono,
o corre-corre das pessoas, o
abandono,
andar pelas ruas dessa cidade
perversa,
a necessidade de uma mudança de
planos,
começar tudo outra vez.
O arrepio, o precipício, o
sobressalto,
escrever mais um poema,
pois a esperança explode em meu
rosto,
teima em alimentar minhas horas,
com um olhar, um sorriso, um
abraço,
e no inevitável pulsar da paixão,
começar tudo outra vez.
A angustiante perda da razão,
acreditar na possibilidade do
sonho,
aprender a perceber o dia que
passa,
sua beleza, em todos os seus
detalhes,
e as águas do mar indecisas na
areia,
e um vento gelado invade a tarde,
começar tudo outra vez.
No final daquela praia tem um
rochedo,
dizem que por lá mora uma sereia,
que ela gosta de devorar
memórias,
e que ela pode nos absolver dos
pecados...
O arrepio, o precipício, o
sobressalto,
a interminável trajetória de um
tolo,
obrigado a recomeçar mais uma
vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário