NALDOVELHO
Teve um tempo
que eu tinha asas de imensidão,
voava como quem voa pro infinito
e eu era um pássaro bonito,
mas tão desaforado,
uma faísca na escuridão.
E tinha plumagem dourada,
bico de abrir estradas,
olhos de derramar paixão.
Teve um tempo
que Deus passarinho dizia
pra eu voar de flor em flor,
pegar delas todo o mel,
depois atravessar as dobras do
tempo,
levar pro mundo a ternura,
remédio pras dores
que afligiam os corações.
Teve um tempo
que o meu canto era singelo,
angelitude que te invadia o quarto,
e eu nem sabia da palavra
que alimenta os teus versos,
mas sabia do amor que eu tinha,
poesia que transcende o poema
e eu pousado em tua janela,
encharcado de tanta emoção.
Teve um tempo que eu tinha asas,
hoje sou apenas um prisioneiro
envolto nas teias do tempo,
e o meu canto é triste e solitário,
pés feridos de trilhar este chão.
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