NALDOVELHO
Lembro bem como
se fosse hoje: sobre a mesa da sala um jarro de cristal acolhia dúzia de rosas
vermelhas misturadas com pencas de monsenhor branco. Pela janela, um sol
sonolento invadia o ambiente. Na parede em frente a janela, um quadro em
destaque: uma criança a pastorear suas ovelhas. Embaixo do quadro, numa
confortável poltrona, Vó Miudinha lia o seu jornal. Um agradável cheiro de
alfazema no ar. Na varanda o Vô fumava seu cachimbo. De repente Vó Miudinha
gritou da sala:
- Manézinho chama o Tonico, eu preciso que ele vá lá na horta
colher umas ervas, principalmente arruda; meu neto vai até a venda, preciso de
fumo pra velha, uma garrafa de pinga das boas e um metro de fita vermelha e
outro de fita amarela. desconfio que daqui há pouco eu vou ter visitas e vou
precisar destes mandados pra poder trabalhar.
E assim do nada,
lá ia ela se preparar. No canto da sala, acendia suas velas, queimava seus
incensos e orava para Nossa Senhora que parecia sorrir do alto do seu altar. Do lado
dela, um pouco mais acima, o Cristo de braços erguidos nos abençoava. Um pouco
mais abaixo, do lado esquerdo, a imagem de uma preta velha, Vovó Teresa das
Almas, e do lado direito, São Lazaro e seu fiel companheiro, e muita pipoca em
seu alguidar. Vó Miudinha era íntima das almas, sabia das coisas lá dos longes
e das voltas que a vida costuma nos dar.
De repente a Vó
sorria e nos dizia:
- num falei, vem aí Dona Elvira e vem arrastando Marli mocinha,
enjoada que num sei o quê, pra modi eu rezar. Só num sabe Dona Elvira, que reza
nenhuma da jeito em barriga de menina prenha de safadeza.
E lá ia a velha
pro quarto pegar em seus guardados uns panos bordados.
- Meu velho, traz um café pra Miudinha, tá dando uma vontade de
pitar um cigarro!
Num demorou nada
e Dona Elvira esbaforida entrou pela sala a arrastar Marli menina de cara
amuada que chorava sem parar com medo das coisas que a Vó Miudinha pudesse
falar.
E daí em diante,
foi um tal de rezas e bênçãos, acompanhadas de muito aconselhamento, pra modi
Dona Elvira se aquietar e aceitar a prenhêz da menina e principalmente pra
Marli menina tomar tento e sossego pra daquela barriga que viria poder cuidar.
- Menina, toma tento! Quando nascer traz aqui pra velha abençoar e
qualquer coisa é só chamar.
Vó Miudinha é muito sabida, velha danada! Até hoje eu tenho medo das coisas que ela sabe,
chego a tremer quando ela senta num canto e começa a pitar seu cigarro... Sei
lá o que ela descobre, sei lá o que ela resolve falar! Ainda bem que de Marli
menina, num passei nem perto, garota bestinha era aquela! Mas tem outras coisas
que aconteceram... Melhor deixar pra lá e tratar de me aprumar!
Muito bom o causo! Adorei!
ResponderExcluirMari Meyer