NALDOVELHO
Eu morro toda a vez que entardece,
morro de prazer ao fazer uma prece,
morro escutando um bom disco de
jazz,
acreditando que vai ser noite de
lua,
e que será sempre fria, não
importa quando.
Eu morro suavemente toda a vez
que anoitece,
morro fingindo que acredito em magia,
morro acreditando que acredito em
Deus,
assombrado com os milagres do dia
e com a minha vontade de escrever
poesia.
Eu morro um pouco mais, só não
sei até quando,
morro na constatação do quanto te amo,
na falta que eu sinto da
delicadeza,
pois ainda que a ternura nos
beije a boca,
falta-lhe a firmeza da paixão.
Eu morro toda a vez que adormeço,
às vezes tropeço em meus sonhos,
às vezes acordo assombrado
com o teu cheiro em meu
travesseiro impregnado
e com a sensação de ter escutado
a tua voz.
Eu morro toda a vez que abro
os olhos,
morro envenenado pelo orvalho,
madrugada que me embriaga e
arrepia,
morro intensamente de alegria,
e agradecendo a dádiva de continuar a viver.
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