sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

INTIMIDADES DE UM POETA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


NALDOVELHO

Na beira do abismo a garrafa de conhaque atormenta em minha mente. O cigarro aceso permanece entre os dedos, uma dúzia de rosas, ainda guardo em segredo, a maresia da orla, a ferrugem entre os dedos, um monte de poemas rascunhados na gaveta.

O barulho dos carros, a insônia insistente, madrugada chuvosa. As teclas do piano, ainda gosto de boleros, mas só os cubanos. A reforma da casa continua em meus planos, rasguei tuas cartas, teus retratos, meus sonhos, primavera, novembro, já faz tanto tempo, as notícias nos jornais, a esperança resiste, apesar dos enganos.

Num canto do quarto: samambaia chorona; no outro: renda portuguesa e tem também azaleias e um vaso de avencas. Na estante da sala: discos e livros, e eu nem tenho mais vitrola, e faz tempo não leio, não escrevo mais poemas, doem muito e ainda sangram. Em cima da mesa solidão e a certeza: já não me resta tanto tempo, e a vontade anda fraca. Minhas pernas, hoje, doem, a glicose anda alta, gravei um CD, o livro está guardado, qualquer dia eu mando, só não sei o endereço.

E no fio da navalha, as artérias entupidas, coração anda espremido pela tal da nostalgia, a pele ressecada pelo tempo de espera, e esse trem que não chega, anda sempre atrasado. As malas já estão prontas, vou levando um agasalho, vai que lá faz frio!

Estou deixando um bilhete, quarta gaveta, lado esquerdo da cômoda, aquela do quarto! Deixo também minha saudade, pois só serviu para manter aberta a ferida, inspiração para um monte de bobagens, intimidades de um poeta, que eu nem sei se vão te interessar.













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