domingo, 5 de janeiro de 2014

A BOCA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   
    NALDOVELHO

    A boca nervosa
    mastiga palavras,
    saliva, lágrimas,
    rumina obscenidades,
    cospe metáforas,
    blasfêmias, heresias,
    diz que é capaz
    de fazer poesia,
    mas se esquece
    que seus versos
    percorrem caminhos
    sombrios, ardidos,
    que passam queimando
    pela garganta,
    pois trazem o assombro
    de uma alma doída,
    pelos cortes, pelas perdas,
    pelo sangue pisado,
    feridas!
    A boca mente,
    tem a pretensão de ser poeta,
    engana todo o mundo,
    é capaz até
    de contradizer o coração
    e desprezar o que ele sente.
    Boca covarde,
    não foi capaz de dizer:
    “fica, pois eu te amo!”
    Apenas sorriu
    um sorriso amargo,
    no dia em que ela partiu!

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