NALDOVELHO
Eu
cerro as cortinas da noite
só
pra ver estrela da manhã brilhar
e
assim, lembrar dos tempos de estrada,
das
sementes impunemente deixadas,
das
colheitas, algumas erradas,
dos
tombos, das dores, escombros,
das
trilhas, sabores, amores,
saudades,
enredos, nostalgia,
nascentes
de águas claras, poesia,
das
pedras a direcionar meu caminho,
dos
dias vividos sozinho,
das
lágrimas, madrugadas insones,
e
de repente você deitada ao meu lado,
palavras
sussurradas em meus ouvidos.
Eu
abro as cortinas do dia
só
pra ver lua se recusando a partir,
e
assim lembrar das carícias,
do
café forte e adocicado,
dos
cigarros compartilhados,
da
cumplicidade em nossos guardados,
do
seu perfume derramado em meu quarto,
das
suas sardas, marcas, tatuagens,
dos
retratos, cartas, bilhetes,
de
todas as promessas não cumpridas,
quarta
gaveta, lado esquerdo do peito,
tudo
muito bem escondido,
coisas
de um amor proibido,
pois
só a nós dois interessa
o
poema que ousamos cometer.