sexta-feira, 24 de junho de 2016

PÁSSARO DE PENAS DOURADAS

    NALDOVELHO

    Pássaro de penas douradas
    pousou no parapeito de minha janela,
    sem pedir licença invadiu meu quarto,
    iluminou livros, discos, cristais, retratos,
    iluminou também minhas guias, meus santos
    e cada canto, todos os cantos, sombrios ou não.

    Como se fosse um anjo
    ele tomou conta do meu amanhecer
    e me mostrou um canto de delicadezas,
    coisa trazida de um mundo de sonhos,
    verdades que se colocadas em cima de uma mesa
    trariam o arrepio, a ternura, a paixão.

    Como se eu fosse um poeta,
    escrevi versos de exaltação ao universo,
    cantigas com a leveza de uma pena,
    onde imagens povoadas de luz
    revelavam um tempo de amor
    a ser colhido num porvir.

    Mas num misto de assombro e tristeza,
    escutei notícias dos longes,
    e caminhei nervoso pela casa
    a buscar em todos os cômodos
    palavras que me devolvessem a crença
    em Deus, na magia, nos homens...

    Rasguei, então, todos aqueles poemas,
    fui até o parapeito da janela
    e percebi que anoitecia em minha cidade,
    e que pássaro dourado tinha ido embora,
    assustado com a violência dos homens,
    não estava mais ali!

  

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