NALDOVELHO
Eu vi um anjo pousado
naquela avenida grande e
tranquila
perto do centro daquela cidade,
suas asas eram avermelhadas
de tanto que estavam sujas de
sangue.
E o anjo entristecido chorava
e as lágrimas que eu via
ao tocar o chão explodiam
e exalavam um cheiro acre
que deixava o ar
quase impossível de se respirar.
E o anjo então vagava
em meio aos escombros,
e a cada corpo que encontrava
acariciava consternado o seu dorso,
até que aquela alma libertada
voasse
em direção ao próximo porto,
pois ali ela encontraria um novo
rumo,
a cura para as suas feridas, a
paz.
Eu vi um anjo ensanguentado
atarefado em sua dolorosa lida,
e ele chorava lágrimas ácidas,
pois não conseguia entender
o porquê de tanto ódio nos
corações.
Mas vi também uma outra alma,
triste e atormentada pela
escuridão,
e desta o anjo não se aproximaria,
enquanto ela não percebesse o
desatino,
e implorasse pelo perdão,
e enquanto isso o que lhe restava
era singrar mares tenebrosos,
até que lapidado pela dor
viesse a encontrar sua redenção.
Pobre anjo de asas
ensanguentadas,
quanta dor carrega em seus
ombros...
Seria ele também uma alma
em busca da sua redenção?
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