segunda-feira, 13 de junho de 2016

O ANJO DA MORTE

    NALDOVELHO

    Eu vi um anjo pousado
    naquela avenida grande e tranquila
    perto do centro daquela cidade,
    suas asas eram avermelhadas
    de tanto que estavam sujas de sangue.

    E o anjo entristecido chorava
    e as lágrimas que eu via
    ao tocar o chão explodiam
    e exalavam um cheiro acre
    que deixava o ar
    quase impossível de se respirar.

    E o anjo então vagava
    em meio aos escombros,
    e a cada corpo que encontrava
    acariciava consternado o seu dorso,
    até que aquela alma libertada voasse
    em direção ao próximo porto,
    pois ali ela encontraria um novo rumo,
    a cura para as suas feridas, a paz.

    Eu vi um anjo ensanguentado
    atarefado em sua dolorosa lida,
    e ele chorava lágrimas ácidas,
    pois não conseguia entender
    o porquê de tanto ódio nos corações.

    Mas vi também uma outra alma,
    triste e atormentada pela escuridão,
    e desta o anjo não se aproximaria,
    enquanto ela não percebesse o desatino,
    e implorasse pelo perdão,
    e enquanto isso o que lhe restava
    era singrar mares tenebrosos,
    até que lapidado pela dor
    viesse a encontrar sua redenção.

    Pobre anjo de asas ensanguentadas,
    quanta dor carrega em seus ombros...
    Seria ele também uma alma
    em busca da sua redenção?



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