NALDOVELHO
Quando eu me vejo na enseada,
embarcação de volta ao cais,
percebo também o bem
que toda a distância nos faz,
pois ela nos traz o bem da saudade,
a falta que eu sinto do teu cheiro,
traz a possibilidade do reencontro,
do abraço apertado, corpos colados,
e aquela música em nossos ouvidos,
lembrança das nossas caminhadas
nas areias daquela praia deserta,
e do cigarro compartilhado,
cumplicidade que o tempo não apagou.
Quando na enseada eu me vejo
entardecendo em tons de dourado,
percebo também o bem
que o tempo inclemente me fez,
pois cicatrizou feridas,
curou dor de partida,
desfez perdas e danos
e fez dos nossos muitos enganos
lições que nunca mais vamos esquecer.
Quando na enseada eu me vejo
perdidamente enamorado,
imagino-te luz da lua
que generosa abençoa o meu corpo,
e te vejo deitada ao meu lado,
pele branca, muitas sardas,
seios fartos, sorriso solto,
e nos seus olhos eu mergulho
e neles me afogo feito um louco,
para depois amanhecer em amarras no cais.
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