NALDOVELHO
E a casa
toda transpirava setembro
de jardineiras
desavergonhadamente felizes,
de algazarra
de pássaros no parapeito da janela,
e até os
colibris, normalmente arredios,
voavam
alegremente em torno de mim.
Só eu continuava
outono de cultivar desenganos,
de não saber
direito onde havia colocado as chaves
de fechar portas
e gavetas que já faz um bom tempo
insistiam em
permanecer abertas dentro de mim.
E da casa
toda gotejavam poemas
de desvendar
segredos, mistérios,
de dissolver
calmarias e tédios,
de crianças a
correr pelo quintal,
de notícias
alvissareiras estampadas no jornal,
de carinho,
ternura e aconchego,
de cheiro de
café bem forte coado sem medo
a espantar a
preguiça e o desassossego,
de frutos
maduros nunca antes consumidos,
mas que hoje
do alto dos meus
lá vão
sessenta e muitos anos,
eu colho e
como, sem ter vergonha
de me sentir
feliz.
E a casa
toda cheirando a jasmim,
magia,
poesia, paixão,
coisas que eu
nunca quis abrir mão,
e que vão
continuar assim
até que um
dia chegue o meu fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário